Pasto com lavoura pode aumentar lucratividade diz Embrapa Trigo


Renato Fontaneli sugeriu cultivar pasto no inverno em área de grãos ociosa .


Em Condor, Renato Fontaneli palestra para mais de 400 produtores de leite.

Um dos mais conceituados pesquisadores em pecuária de leite do Sul do Brasil, Renato Serena Fontaneli, da Embrapa Trigo, ofereceu razões de sobra para convencer o produtor a fazer a integração lavoura - pecuária de leite.  “No inverno, temos área de lavoura disponível para fazer pasto”, disse Fontaneli, na sexta-feira (9/5), durante sua palestra realizada em Condor. O evento, promovido pela prefeitura, Emater/RS-Ascar e Governo do Estado reuniu mais de 400 pessoas de nove municípios do Noroeste gaúcho.

 De olho nos benefícios econômicos, agronômicos e ecológicos, Fontaneli insistiu para que os produtores gaúchos pensem a respeito dos cinco milhões de hectares que ficam ociosos no inverno. O pesquisador comparou a área cultivada no verão, aproximadamente seis milhões de hectares, com soja, arroz, feijão e sorgo, com a área cultivada no inverno, em torno de um milhão de hectare, com trigo, aveia branca, cevada, triticale e centeio. “A atividade leiteira é árdua, complexa, mas permite renda. Temos de encarar essa atividade como ‘duas colheitas’ por dia”, disse o pesquisador da Embrapa Trigo.

 A integração pecuária de leite – lavoura, em um Estado de clima subtropical, como o Rio Grande do Sul, abriria uma “janela de oportunidades” para diversificar e aprimorar os sistemas de produção de grãos e de pastagens, conservaria melhor o solo, reduziria a incidência de doenças e plantas daninhas, tornaria mais eficiente o uso das máquinas agrícolas e alargaria a margem de lucro do produtor. “O problema do sistema intensivo é que ele acaba estreitando a margem de lucro”, justificou Fontaneli, embasado na pesquisa realizada pela Embrapa sobre Leite a Pasto em Sistemas de Integração Lavoura-pecuária.

 “O pessoal fica com o pé atrás quando eu digo que a vaca que precisamos, a minha avó já conhecia. Genética nós temos, nós precisamos é de alimento”, insistiu Fontaneli.

 Partindo do pressuposto de que não se pode dar qualquer coisa para as vacas comer, a pesquisa feita pela Embrapa sugere o plantio e manejo de gramíneas e leguminosas forrageiras e cereais de inverno de duplo-propósito – trigo e aveia.

 Entre as espécies anuais de inverno, foram sugeridos trevos, aveia, azevém, com maior taxa de crescimento entre agosto e outubro. Entre as espécies perenes de inverno, poderia se pensar na festuca, trevo branco e cornichão, com taxa de crescimento entre setembro e novembro. Na lista das espécies perenes de verão, a Embrapa indicou tifton, quicuio, jesuíta, hermatria, com maior taxa de crescimento entre setembro e outubro.“Dá para fazer muito dinheiro por área, o desafio é consorciar, fazer essa engenharia”, assegurou Fontaneli.

 Nos Estados Unidos, quando concluiu o curso de doutorado há mais de dez anos, Fontaneli comparou a produção de leite de vacas em confinamento e tratadas no pasto. “Confinada, a vaca produzia 30 litros. No pasto, a produção baixou cinco litros. Só que o custo do confinamento era quatro dólares vaca/dia. O custo do alimento no sistema a pasto era dois dólares vaca/dia. Muito bem, perdi cinco litros de leite, mas entrou mais dinheiro no bolso, sobrou 10% a mais”, comparou Fontaneli. “Será que um bom pasto de inverno dá para fazer uma vaquinha produzir 15 litros de leite a pasto?Dá.  Com pasto de valor a vaca come por dia 15 kg de matéria seca, logo irá produzir 15 litros de leite. Quanto me custou esse quilo de matéria seca? Dez centavos”, calculou o pesquisador.

 O palestrante da Embrapa Trigo tomou o cuidado de não apresentar modelos. “Precisamos conhecer as opções e adapta-las às condições locais. A cevada, por exemplo, tem alta energia líquida para lactação. No mundo inteiro, mais de 70% da cevada é usada na alimentação animal. No Brasil, é usada para cerveja”, ilustrou Fontaneli.

 

Informações

Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar Regional de Ijuí

Jornalista Cleuza Noal Brutti