Patrimônio de casal da Rede Leite deverá dobrar em seis anos por causa da persistência e políticas públicas


"É um exemplo", elogia visitante


Propriedade do casal Carmem e Vilmar Kaufmann, localizada em Rincão Fundo, interior de Panambi.

Pedra é o que não falta na propriedade de 15 hectares do casal Carmem e Vilmar Kaufmann, localizada em Rincão Fundo, interior de Panambi. Na última quinta-feira (24/4), os Kaufmann relataram para um grupo de agricultores e extensionistas da Emater/RS-Ascar o que fizeram para dobrar o patrimônio em seis anos, com rígido controle das receitas e despesas, além do auxílio da assistência técnica e de políticas públicas de acesso ao crédito, oferecidas pelo Governo.

 O encontro realizado em Panambi faz parte da metodologia de trabalho da Rede Leite, da qual fazem parte 67 famílias rurais, além de nove instituições, Emater/RS-Ascar, Embrapa, Unijuí, Unicruz, UFSM, Instituto Federal Farroupilha – campus Santo Augusto, Fepagro, Cooperfamiliar e Associação Gaúcha dos Empreendimentos Lácteos (Agel). 

A história de vida do casal, permeada por muito esforço e trabalho, deixou os visitantes impressionados. “É um exemplo pra nós”, disse o agricultor Jurandir Santos, do município de Bozano.

 Adquirida em 2007, por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário - o financiamento será pago em 10 prestações -, a propriedade que era inóspita se transformou em um lugar cheio de benfeitorias.

 Quando se instalaram em Rincão Fundo, os Kaufmann tiveram de começar do zero. Uma das primeiras providências foi carregar pedras, literalmente, porque as condições do terreno, que também tem declives e solo raso, exigiam esse esforço. Nos anos seguintes, ficaram de pé a casa, o galpão, o galinheiro, o pavilhão dos suínos, a sala da ordenha.

 Entre os equipamentos agrícolas adquiridos, estão o pulverizador, a plantadeira, o arado, o resfriador de leite, um trator e um saraquá. O equipamento manual de plantar milho não está mais em funcionamento, mas tem valor sentimental. Foi com o saraquá que Vilmar Kaufmann plantou as primeiras lavouras de milho. “Foi adquirido pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e custou uns 80 reais”, lembra Kaufmann.

 Planilha PSP

Desenvolvida pela Emater/RS-Ascar, a Planilha de Sistematização de Produção (PSP), tem sido uma ferramenta imprescindível de gestão. Por meio dela é possível visualizar a evolução do sistema de produção de leite, com indicadores produtivos e econômicos. Com base na PSP, os exensionistas da Emater/RS-Ascar, Sandra Spada, Diogo Schwertner e Paulo Zambra, acompanham o desempenho e fazem projeções a respeito da produção de leite e da renda dos Kaufmann.   

 De um ano para outro, os ganhos obtidos com a produção de leite cresceram 31%, de 2012 para 2013. A produtividade do plantel de 12 vacas em lactação também aumentou, em média, 700 ml a mais de leite produzido diariamente por vaca no mesmo período. Resultado de investimentos na pastagem e em genética, além da melhora no preço, assegurou Kaufmann.

 A produção de leite, no entanto, que em 2012 representava 37% da renda total bruta, em 2013, perdeu a liderança para a produção integrada de suínos, que representa atualmente 48% da renda total bruta obtida pela família, que também ganha dinheiro com a produção de soja, trigo e aves. “Esta família aproveita todas as oportunidades que estão sendo dadas e que muita gente, às vezes, não aproveita”, disse o gerente da região administrativa da Emater/RS-Ascar de Ijuí, Geraldo Kasper.

 Desafios

A reduzida área de pastagem (4,2 ha), dividida em 54 piquetes, limita as possibilidades de oferta de comida aos animais. Uma das alternativas sugeridas pelo grupo que visitou os Kaufmann foi a de plantar sobre a grama tifton (perene) forrageiras como aveia, centeio e ervilhaca, que poderiam alimentar as vacas no período de escassez de forrageiras.

 A estiagem, outro fator de risco, deverá ter seus efeitos reduzidos. Está prestes a entrar em funcionamento o sistema de irrigação financiado pelo Programa Mais Água, Mais Renda, do Governo do Estado. Os canos já estão nos buracos, abertos nos 4,2 hectares do pasto.

 “A água é um fator limitante, por isso também seria interessante pensarmos na construção de cisternas, para recolher água da chuva”, sugeriu a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar, Auria Schröder. O assessor da Secretaria da Agricultura, Indústria, Comércio e Serviços de Panambi, Arnildo Rohenkohl, concordou. “Estamos perdendo a água superficial”, lamentou Rohenkohl.

 Os visitantes ainda sugeriram outras medidas: a compra de um transferidor de leite, a oferta de sal mineral e mais proteína na dieta dos animais, a substituição das vacas holandesas por outras, de menor porte e mais rústicas, que se adaptariam melhor ao sobe e desce diário na propriedade, cheia de pedras.

 Se essas e outras medidas forem implantadas, espera-se, haverá aumento da produtividade, que atualmente é de 8 litros vaca/dia. “O que a Rede Leite está propondo é a experimentação pura da pesquisa, se não dá certo de um jeito, experimentemos de outro”, disse o assistentetécnico regional de sistemas de
produção da Emater/RS-Ascar, médico veterinário Oldemar Weiller.

 O próximo Encontro da Rede Leite será no dia 11 de junho, em Augusto Pestana.

 

Informações

Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar Regional de Ijuí

Jornalista Cleuza Noal Brutti